sexta-feira, 22 de outubro de 2010

EPTV LANÇA PROJETO ESPECIAL BOIADEIROS DO BRASIL

Emissora afiliada da Rede Globo exibe programa neste sábado, dia 23 às 08:00

         O boi e o homem, uma sintonia que não se perde  no tempo. Na Índia, o animal sagrado venerado pela influência religiosa  acompanha a história de um país milenar. No Brasil, há  500 anos  o boi  desbrava o interior, forma impérios, cria profissões, domina o universo  popular. Duas culturas diferentes se encontram na história do zebu. Ao procurar um gado resistente ao nosso clima, os pioneiros brasileiros descobrem a Índia.

        A tecnologia do século 21 importa embriões bovinos e reforça a ligação entre os dois países distantes. Mais uma vez  o boi une oriente e ocidente, numa história que transformou o Brasil no maior exportador de carne do mundo. 

        Boiadeiros refaz os caminhos por onde o boi passou. Resgata a epopéia dos nossos pioneiros que desafiaram a falta de estrutura dos séculos passados nas viagens até a Índia para trazer o gado que hoje representa 80% da pecuária nacional. Se o olhar ocidental ainda enxerga uma Índia estranha, há 130 anos era mais do que ousadia explorar aldeias primitivas atrás dos melhores animais. Rubico Carvalho, um dos pioneiros do século 20,  vasculhou o interior indiano a procura do boi branco, "o nelore".

        Hoje, o filho Tonico Carvalho, pecuarista de Barretos, viaja à Índia para rever os caminhos percorridos pelo pai. Encontra um país de 1,2 bilhão de pessoas, a segunda maior população do planeta, que divide o pouco espaço com os animais soltos pelas ruas. Mais do que uma aventura, a Índia moderna ainda conserva as lembranças do passado.

        Tonico Carvalho compara as histórias narradas pelo pai com a realidade de hoje. É difícil falar e andar por esse país.  As ruas e estradas congestionadas por carros e bichos dão o ritmo lento em qualquer viagem. Cada região fala um idioma diferente e ninguém se  entende. Negociar um boi envolve questões religiosas.

        A busca dos pioneiros tinha um destino certo: Ongole, no sul da Índia, o berço genético do boi branco onde a raça nasceu sem a interferência do homem numa seleção de milhares de anos feita pela natureza. Nossos repórteres foram até esses currais  para mostrar a origem do nelore. Pelo caminho encontraram  asilos que abrigam os animais até a morte natural ouviram indianos que explicam os motivos da veneração pela vaca sagrada e descobriram um mundo onde o passado e o presente se misturam.

        A terra de Gandhi, dos pastores que conduzem rebanhos, dos templos que veneram deuses e animais, tem muito mais para mostrar. Tem o Pradip, um indiano que cuida do gado dos brasileiros;  Babu e Faruk, a esperança do nelore;  Desaii Jayran que respeita a vaca como a própria mãe, Adjie que conduz os dromedários...

        "Boiadeiros do Brasil"  foi atrás de gente que testemunhou a história que poucos conhecem. Resgatou  imagens da última importação de zebu em 1962 e a quarentena forçada dos animais na Ilha de Fernando de Noronha, no litoral brasileiro. Os filhos dos pioneiros narram  o drama que os pais enfrentaram num lugar que não tinha comida e nem estrutura para manter o gado durante meses. Testemunha ocular, Helena Deutsch acompanhou o desembarque dos animais junto com o pai, o veterinário responsável. Viu um bezerro ser levado pelo mar revolto, imagem marcante para uma menina de 5 anos.

        A chegada dos últimos zebuínos ao país  fez crescer ainda mais a cumplicidade entre o homem e o boi: "uma parceria selada com suor sobre o pasto amarelo da seca, azul do frio, e verde da esperança." Hoje, o setor emprega mais de 6 milhões de brasileiros. O vaqueiro nordestino que arrisca a vida na caatinga, o pantaneiro que conduz a boiada  pelos alagados do centro-oeste, os gaúchos que tocam o gado europeu, os mineiros que seguem o cortejo de fé na procissão de carros de boi. Gente que depende do boi pra viver.

        Por esse Brasil afora encontramos personagens reais que fazem parte dessa história. O aboio ecoa no sertão pernambucano. Na terra de Lampião encontramos uma mulher que comanda os vaqueiros: Maria Soneide, com perfil de  "Diadorim", personagem homem/mulher de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Soneide monta no cavalo e  dispara no meio da caatinga atrás dos bois sem ter medo dos espinhos. Sabe fazer serviço de homem e de mulher. E tem um marido apaixonado: "Ela é demais".

        E por esse nordeste vamos conhecer também o seu Braz, o vaqueiro de 77 anos que cuida do gado como se fosse um filho, e o Zé do Couro o homem que já salvou mais de mil vidas. A viagem segue para o Rio Grande do Sul e revela Francisbeth, a gaúcha meiga que sabe lidar com bois. No pantanal do Mato Grosso, a rotina das comitivas que resistem ao tempo, e no sul de Minas Gerais, a tradição dos carros de bois que levam a imagem de Santa Rita: "Uma procissão que termina no céu."
  
        O especial vai mostrar  que além da ousadia, o país evoluiu na tecnologia, investiu na seleção e no melhoramento genético para ser o principal fornecedor de carne do mundo nos próximos 10 anos. Mas  vai discutir também que a  pecuária extensiva chegou ao limite das florestas. Pesquisadores da Usp, Esalq e Embrapa apontam quais são os caminhos para a pecuária sustentável.

        A viagem termina no Acre, a última fronteira agrícola do país, com exemplos de contraste:  a agressão ambiental que ainda existe, e como  é possivel investir em técnicas adequadas no pasto e aumentar a produtividade sem arrancar uma única árvore. A produção do programa começou em outubro de 2009. Foram 3 meses de pesquisas, entrevistas com historiadores e especialistas do setor.

        As gravações externas demoraram 5 meses percorrendo  6 estados brasileiros (SP, MG, RS, MT, PE e AC)  e 3 estados indianos (Gujarate, Andra Pradesh e Tamil Nadu), num total de 29 mil km entre os dois países. Mais do que a distância vencida para contar uma história, este programa vai levar até você a alma da nossa gente. Um mundo que renasce todos os dias com vida nova nos pastos de "Boiadeiros do Brasil."

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