sexta-feira, 1 de julho de 2011

As múltiplas faces de Franz Liszt


Série de concertos revela as complexidades da obra do compositor

Em 2011, comemoram-se em todo o mundo os 200 anos do nascimento do compositor húngaro Franz Liszt. O projeto HUNGARIA! AS MÚLTIPLAS FACES DE FRANZ LISZT – com pesquisa e direção musical do pianista Giulio Draghi e coordenação, produção de textos e roteiro assinados pela compositora Cirlei de Hollanda – propõe-se a apresentar, em uma série de seis concertos que vai ocupar o Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e em Brasília, durante o segundo semestre, aspectos tão marcantes quanto contrastantes da obra de Liszt. Compositor de personalidade ímpar, com história de vida bastante singular, Liszt esteve à frente de seu tempo, tendo inovado quanto à sonoridade, à forma e à escrita musical, abrindo, com sua música, as portas do século XX. No Rio de Janeiro, o concerto de estreia que acontece na terça- feira, 5 de julho, com sessões às 12h30 e 19h, é intitulado O Poeta e reúne no palco a  renomada soprano Rosana Lamosa e o pianista Flávio Augusto. O programa é singular: exibe as canções de Liszt para soprano e piano, raramente tocadas no Brasil.

Em 1827, com a morte de seu pai, Liszt muda-se para Paris que, na metade do século XIX, é o centro do movimento romântico. Lá é apresentado à elite intelectual da cidade e toma contato com as modernas correntes da literatura francesa, o que contribui para sua formação intelectual, que, a partir daí, terá como base um caráter marcadamente literário, levando-o a buscar, como compositor, inspiração para suas obras na literatura e a utilizar, em suas peças para canto, textos de autores de excelência, como Petrarca, Goethe, Heine e Victor Hugo, entre outros. É deste momento que fala o primeiro concerto, com  repertório que reúne peças sobre poemas franceses de Victor Hugo (Oh! quand je dors), poesias românticas alemãs de Goethe e Heine (Die Lorelei) e sonetos de Petrarca. O pianista Flávio Augusto entremeará um bloco e outro de canções executando duas obras para piano de inspiração literária: o Noturno nº 3 em lá bemol maior (o universalmente conhecido  Rêve D’Amour, amado tanto pelos ouvintes quanto pelos próprios intérpretes)  e o Sonetto 123 di Petrarca em lá bemol maior.

O segundo concerto, programado para 2 de agosto, reúne quatro intérpretes ao redor de dois pianos: Laís Frey, Marina Spoladore, Luciano Magalhães e Ronal Silveira, considerados entre os melhores desta nova geração de pianistas, se revezarão na execução das rapsódias escritas por Liszt, com direito, ao final,  à interpretação de uma versão inédita da Rapsódia No. 9 – Carnaval em Pest, para dois pianos a oito mãos, transcrita por um aluno de Liszt para esta formação. Intitulado O Cigano, este concerto presta tributo a um dos aspectos mais geniais de Liszt: o  de improvisador. Esta apresentação trará ao público peças reveladoras de sua alma cigana.

Para 6 de setembro, está agendada uma verdadeira maratona pianística. O repertório contempla os Doze Estudos de Execução Transcendental, que serão apresentados de forma integral, neste concerto propriamente batizado O Virtuose. Para apresentar esta característica marcante de Liszt, a do virtuosismo, e encarar este complexo desafio técnico, estará ao piano o sérvio Kemal Gekic. Atualmente radicado nos Estados Unidos, Gekic teve sua gravação dos estudos considerada pela crítica especializada como uma verdadeira revelação.

O duo inusitado formado por Cláudio Mendes (ator) e Aurélio Vinicius Melleh (pianista)  é responsável pela condução do quarto concerto, agendado para 4 de outubro. Sob o título de O Dramaturgo, este concerto tem repertório focado nos melodramas. O melodrama com acompanhamento instrumental constituiu-se numa forma musical muito em voga e apreciada no século XIX, tendo sua origem na ópera e no Singspiel. Do total dos cinco melodramas compostos por Liszt, o programa exibirá quatro. A saber: - Der Blinde Sanger sobre texto de Tolstoi; - Der Traurige Monch sobre texto de N. Lenau; - Lenore sobre texto de G.A. Burger; - Des toten Dichters Liebe sobre texto do poeta húngaro Moritz Jókai.

 Peças sacras ou de inspiração religiosa dão o tom de O Abade. O quinto concerto da série, no dia 1º de novembro, reúne as peças Fantasia sobre o coral ‘Ad nos ad salutarem undam’, para órgão solo e Cantico del Sol, sobre texto de São Francisco de Assis, interpretadas pelo duo formado por Marco Aurélio Lischt (órgão) e Homero Velho (barítono).

Para terminar com chave de ouro, em 6 de dezembro, o sexto e último concerto - Mefistófeles de Batina - será apresentado pelo pianista Giulio Draghi, à frente da versão para piano solo,  inédita no Brasil, da Sinfonia Fausto. Transcrição para piano solo de Carl Tausig. Revisão e editoração eletrônica do manuscrito por Sérgio de Sabbatto e Giulio Draghi.

 Sobre Franz Liszt

 Nascido em 1811, na Hungria, fez de seu gênio criativo um marco na História da Música. Podemos afirmar que sua obra e sua vida tornaram, sem dúvida, mais pulsante o século XIX. Com uma carreira internacional de virtuose extraordinariamente brilhante e de constante nomadismo ao administrador  incansável e professor generoso, viveu primeiramente em Paris, França, centro de suas atividades na juventude e cidade na qual recebe influências tão diversas quanto determinantes na sua formação de pianista e compositor. Lá, tomou contato com as modernas correntes da literatura francesa, travou contato com Victor Hugo, Georges Sand, Berlioz, Chopin, Paganini e outros vultos notáveis da intelectualidade e das artes. Passou pela Suíça e percorreu toda a Europa  desde Portugal até a Rússia, sempre com enorme triunfo, fixando-se  aos 37 anos em Weimar, cidade em que o virtuose cosmopolita dá lugar ao compositor fecundo. É lá que Liszt compõe a parte mais importante de sua obra. A partir de 1858, divide-se entre Weimar, Budapeste e Roma, cidade onde expande e desenvolve seus sentimentos de religiosidade, que sempre o tinham acompanhado. Em 1861, vê fracassar, no dia em que completaria 50 anos, a tentativa de unir-se por laços matrimoniais à princesa Carolyne da Rússia. O Papa Pio IX se recusa a anular o primeiro casamento da princesa, impedindo sua união legal com Liszt. Numa crise profunda, afunda-se na depressão, deixa definitivamente Carolyne e busca refúgio no convento Madona do Rosário. Aos 54 anos, é ordenado abade. Nos últimos anos de sua vida, dedica-se de preferência à música religiosa, enquanto prossegue com sua carreira de professor e pianista, sendo acolhido com entusiasmo por onde quer que se apresente.

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