terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pesquisadora francesa explora descontinuidades e fragmentos históricos em livro que repensa o sofrimento e as relações humanas

Arlette Farge propõe o estudo da história a partir de suas descontinuidades, de seus fragmentos. Na obra Lugares para a história, lançada no Brasil pela Autêntica Editora, a pesquisadora francesa é fiel a esta abordagem até mesmo na construção narrativa do texto, que se dá em capítulos curtos e, embora relacionados, que guardam certa autonomia entre si. “A abordagem do descontínuo, do que não se conecta automaticamente a um sistema liso de continuidades e de causalidades evidentes, tem a vantagem de isolar cada acontecimento e de devolvê-lo a sua história pura, áspera, imprevisível”, lembra Arlette nas primeiras páginas desse livro, cuja cuidadosa tradução é assinada por Fernando Scheibe.

Inspirada na sagacidade crítica das análises de Robert Mandrou e na inteligência criadora de Michel Foucault – com quem publicou, em 1982, La Désordre des familles (A desordem das famílias) –, Arlette se questiona sobre como conciliar as exigências da objetividade e a necessidade que tem o historiador de reinterpretar o passado à luz do presente.

A pesquisadora, que trabalha a partir de arquivos e documentos de registros, estabelece alguns “lugares” para os quais lança seu olhar: de um lado, situações do século XVIII marcadas pelo sofrimento, pela violência e pela guerra; de outro, certos modos singulares de existir no mundo, como a fala, o acontecimento e as relações entre homens e mulheres. Os dois conjuntos se articulam, segundo ela, pela presença, hoje, tanto de configurações sociais violentas e sofridas, quanto de dificuldades sociais que desequilibram as relações entre o um e o coletivo, entre os gêneros e entre os fragmentos separados e a história.

Literatura indicada para historiadores, pesquisadores e estudantes, o livro Lugares para a história não se restringe, porém, ao âmbito acadêmico – pode ser abraçado por todos os interessados em repensar o presente a partir de perspectivas históricas bem fundamentadas.

Sobre a autora – Arlette Farge, historiadora francesa dedicada ao estudo do século XVIII, é professora na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, diretora de pesquisa no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Publicou, entre outros, O sabor do arquivo (EDUSP, 2009), Dire et mal dire. L’opinion publique au XVIIIe siècle (Dizer e maldizer. A opinião pública no século XVIII, inédito em português) e Le Cours ordinaire des choses dans la cité du XVIIIe siècle (O curso ordinário das coisas na cidade do século XVIII, também inédito em português).

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