Fabricio Mattos, que define seu estilo musical como clássico multi-influenciado, leva a sensualidade sonora, as nuances e a totalidade dos diferentes timbres do violão a diversos países.
Um músico jovem, que na infância lia partituras antes mesmo de ser alfabetizado, resolveu integrar música erudita, culturas variadas, composições e tecnologia. O resultado disso foi o surgimento do Worldwide Guitar Connections (WGC). Na primeira etapa do projeto, que ocorreu entre maio e julho deste ano, o violonista Fabricio Mattos partiu do Brasil e levou sua arte a 15 países, encantando mais de 3 mil pessoas. Nas apresentações, o público conheceu cinco composições, criadas exclusivamente para o músico, dos compositores Harry Crowl, Mário Ferraro, Luiz Cláudio Ribas Ferreira, Paul Hart e Salomão Habib. O WGC, que em sua primeira edição segue até 2013, eterniza composições, emociona e instrui por meio das redes sociais, pelo site do projeto (www.worldwideguitarconnections.com) e ações de interação e de entretenimento. Os folhetins com o programa das apresentações são reutilizados a cada show e as mensagens deixadas pelos admiradores nesses materiais são compartilhadas no Facebook: www.facebook.com/worldwideguitarconnections e também no site oficial do projeto.
A palavra-chave do WGC é integração entre diversos conceitos, pessoas, instituições, lugares e ideias. Como foi a conexão entre esses elos na primeira fase da sua turnê?
Fabricio Mattos - A turnê aconteceu completamente dentro dos conceitos do WGC e o legal é que os diferentes públicos entenderam isso em menos tempo do que eu esperava. Como é um projeto novo, em muitos sentidos, em qualquer parte do mundo, eu esperava ter que explicar muito como funcionava, mas o que aconteceu foi que muitas vezes eu chegava para tocar em algum lugar e as pessoas já sabiam quase tudo sobre o WGC. Então, isso me fez acreditar que nosso pensamento e vontade genuína de integrar estão funcionando muito bem e sendo muito bem aceitos.
Cinco compositores, com cinco diferentes linguagens musicais. Como é fazer a integração disso antes e durante a apresentação?
Fabricio Mattos - Como todo bom projeto, o WGC tem um conceito e uma ideia muito claros que entregam uma mensagem artística e social. Quando me vi com tantas obras dedicadas a mim, em tantas linguagens diferentes, achei uma pena tocá-las apenas de vez em quando. Por isso resolvi ir ao limite e, por algum tempo, tocar somente coisas dedicadas a mim, usando as diferenças de linguagens como uma premissa para alcançar diversos públicos. Para isso, é preciso ter conhecimento profundo de algumas áreas gerais da música. Sou bastante feliz por ter alcançado um nível de entendimento musical que me permite transitar por diversas linguagens.
Como uma turnê impacta em sua carreira e em sua produção musical?
Fabricio Mattos – Uma turnê mundial é algo inigualável e, muitas vezes, inimaginável. Acho que é uma das experiências mais fantásticas que se pode ter. Nessas viagens, capto referências naturalmente, muitas vezes musicais, outras em alguma outra área, mas sempre tem algo que muda depois de viagens. O legal também é começar a ser referência de outras pessoas em países distantes do seu de origem. Isso mostra como existe um fator humano comum que deve ser explorado.
Como você avalia a recepção da sua música nas diferentes culturas?
Fabricio Mattos – Como músico, fui muito bem recebido em todos os lugares por onde passei. Quanto aos estilos das obras, alguns lugares têm preferências claras por alguns estilos, o que já era esperado. Fiquei surpreso com a aceitação da música abstrata na Tailândia. Isso me levou a ‘rever conceitos’.
Dentre as apresentações, houve alguma especial?
Fabricio Mattos - Várias, mas gostei muito do concerto em Hong Kong, no qual toquei com um amigo meu, o pianista Alan Chu. Foi um clima muito gostoso e o público vibrava de uma maneira que vi pouquíssimas vezes.
Sobre as mensagens deixadas nos programas pelos expectadores, alguma em especial lhe tocou?
Fabricio Mattos - Teve uma em que a pessoa desenhou uma clave de sol e uma clave de fá, formando um coração, e escreveu embaixo a expressão ‘music=love’. É a capa do álbum dos programas no Facebook do WGC. Apesar de soar meio batido, dentro da situação e da proposta do WGC, foi algo muito emocionante de ler. Várias outras foram marcantes, mas essa foi especial.
Uma das propostas do seu trabalho é a instrução do público. Como você vem trabalhando isso?
Fabricio Mattos - Trabalho com isso antes mesmo dos concertos, postando notas de programas e falando sobre as obras a serem tocadas. Durante o concerto, informações verbais são fornecidas e o pen drive (vendido após as apresentações) traz outras. Muita gente, que sabia pouco sobre o violão, seu repertório e possibilidades, saiu dos concertos satisfeita, por ter finalmente entendido como as coisas funcionam na prática.
Quais são os próximos passos da sua carreira?
Fabricio Mattos - Quero ter tempo para estudar mais, pretendo distribuir melhor o tempo entre turnês e pesquisa acadêmica, e dar bastante prioridade ao WGC e também para outras partes do repertório tradicional do violão. Pretendo, em breve, começar a inserir obras do WGC em programas com obras tradicionais, agora que essas obras já são um pouco mais conhecidas. Estou contente que neste segundo semestre vou lecionar muitas masterclasses em diversos locais, mantendo a atividade didática a pleno vapor.
O WGC continua?
Fabricio Mattos – A segunda edição já está sendo produzida ‘intelectualmente’. Alguns compositores de diversos lugares do mundo já estão trabalhando em obras novas. Tenho uma turnê no Brasil nos meses de setembro e outubro. Em novembro, volto à Tailândia para tocar e dar aulas no festival internacional de violão. Saindo de lá, talvez volte a Portugal em dezembro. Depois disso, férias para poder descansar e me preparar para mais concertos do WGC em 2012.
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